Este ensaio pretende analisar o impacto das coetâneas práticas de auto-representação, vulgo selfie, nas tradicionais formas de fruição do objecto artístico. As inúmeras transformações do papel ontológico do objecto artístico, decorrentes, na última década, do surgimento de novos conceitos de “socialização visual”, obrigam a uma releitura do célebre ensaio de Walter Benjamin, A Obra de Arte na Era da Sua Reprodutibilidade Técnica. Com efeito, por detrás do fenómeno que a recorrente selfiezação do mundo impõe, assiste-se hoje a uma clara injunção do sujeito/observador sobre a «aura» e poder do objecto artístico. Esta notória dessacralização promove o empoderamento icónico do sujeito em detrimento da «aura» do objecto artístico, descaracterizando-o e remetendo-o para as inconscientes arenas que os enxames sociais representam. Este facto, tem motivado o ressurgimento de ameaçadores fenómenos de denuncia de “arte degenerada”, promovidos por um renovado e avassalador higienismo estético.